terça-feira, 3 de abril de 2018

Excelente página de
quadrinhos relacionados a temática do Cerrado:
https://www.facebook.com/cerradoemquadrinhos/
 





Captação de água por grandes empresas compromete rios do Cerrado

“Ficava bem ali”, diz Marcos Rogério Beltrão apontando para uma depressão de terra avermelhada e cheia de pedras sob uma pequena ponte de madeira. É a estação chuvosa em Correntina, uma pequena cidade do Oeste da Bahia, e aquele caminho pedregoso deveria estar cheio d’água. No entanto, está totalmente seco.
Cerca de uma dúzia de outros riachos próximos está assoreado, quase vazio ou morto naquele dia empoeirado, de 40 graus, no final de fevereiro.
Riacho-que-corta-o-Vale-do-Arrojado-esta-completamente-seco-na-epoca-chuvosa_Alicia-Prager-copy-1521486188
Riacho que corta o Vale do Arrojado está completamente seco em plena época chuvosa.
Alicia Prager
Nascido em Correntina, o ex-pequeno agricultor e ambientalista Beltrão nos levou por um vale da zona rural abastecido por vários riachos que se conectam ao rio Arrojado. Na beirada do rio principal, ele explica: “Ele está fluindo com 40 mil litros por segundo durante a estação chuvosa. Esta deveria ser a vazão da estação seca”.
Correntina é coberta principalmente pelo Cerrado, que oferece abundantes recursos hídricos, apesar de secas sazonais. Localizado em sua maioria na porção central do Brasil e composto por chapadas, o bioma distribui águas para as regiões vizinhas. Oito das 12 bacias hidrográficas e três aquíferos – Guarani, Bambuí e Urucuia – estão neste segundo maior bioma brasileiro, perdendo apenas para a Amazônia, e é considerado o berço das águas do país.
Dos 31 mil moradores do município, 60% vivem no campo e dependem de sistemas artesanais e da chuva para irrigar sua pequena produção familiar. A pequena cidade rural entrou no holofote nacional no final do ano passado, quando um quarto da população foi às ruas protestar contra o uso excessivo da água por grandes fazendas das região. Eles acreditam que essa é a razão pela qual o nível dos rios está diminuindo.

Insatisfação crescente

O grande protesto tomou as ruas da cidade no dia 11 de novembro. Uma semana antes, no dia 2, centenas de pessoas (informações são pouco precisas sobre o total) destruíram a infraestrutura da fazenda Rio Claro, de propriedade da Lavoura e Pecuária Igarashi. Durante aquele dia, um pesado aparato policial foi enviado à fazenda. Ninguém se feriu.
O caso está sendo investigado pela delegacia local, que já identificou os possíveis envolvidos e está tomando depoimentos. A Rio Claro está recuperando sua operação depois de meses inoperante e diz que os prejuízos chegam a R$ 50 milhões.
O instituto de meio ambiente da Bahia, Inema, aprovou que ela retirasse de 176 milhões de litros de água por dia do rio Arrojado.
A fazenda chegou à região há 14 anos para produzir grãos e legumes. O instituto de meio ambiente da Bahia, Inema, aprovou que ela retirasse de 176 milhões de litros de água por dia do rio Arrojado. De acordo com os cálculos da Comissão Pastoral da Terra, com base na companhia de abastecimento local, isso poderia garantir água por mais de um mês a toda a população de Correntina.
Samuel Britto, da Comissão Pastoral da Terra, está supervisionando o caso. Ele diz que os protestos ocorreram depois que a população viu relatos na mídia local de que a empresa estava expandindo sua atividade. Ao mesmo tempo, houve uma queda brusca do nível do rio, não necessariamente relacionado ao uso da fazenda.
O advogado da Igarashi, Marco Aurélio Naste, explica que a fazenda usava água abaixo da vazão autorizada e que, na época do incidente, estava fazendo obras para chegar ao valor total. Mas a assessoria de imprensa não informou o quanto de água a empresa retirava do rio.
Naste ressaltou que a companhia operava com licença ambiental e foi surpreendida pelo ato: “A companhia não tinha um histórico de conflito com a comunidade. Ela opera totalmente regular, as denúncias [de que haveria remoção irregular de água] são improcedentes”.
Britto acrescenta que os atos eram contra a própria outorga do Inema. O órgão se manifestou sobre a situação.

17 rios secos

Correntina testemunha a redução da água à medida que a agricultura avança pela vegetação de Cerrado e instala grandes sistemas de irrigação na região. A cidade é um importante produtor de soja e colheu 357 mil toneladas ano passado, mas é campeã nacional de desmatamento: abriu 165 quilômetros quadrados de vegetação entre 2013 e 2015. Ela está no centro da expansão agrícola do Brasil e torna-se cada vez mais um local de conflitos pela água.
Desde 1985, a Pastoral da Terra contabilizou 41 conflitos na localidade, grande parte com relação à água.
“A cidade é emblemática da crescente insatisfação das pessoas com o agronegócio e seus impactos na água da região”, diz Britto, que acompanha os conflitos territoriais no Oeste da Bahia.
Desde 1985, a Pastoral da Terra contabilizou 41 conflitos na localidade, grande parte com relação à água. Em 2000, havia 17 rios secos, diz ele, com base em notícias da época. Não há dados exatos hoje, mas a situação não melhorou. “Pelo contrário, as coisas estão ficando piores à medida que as empresas avançam pela terra”, acrescenta.
A Fazenda Sudotex também está no centro de uma polêmica sobre abastecimento de água em Correntina. A companhia, que planta algodão, foi autorizada a construir 15 poços artesianos. A água retirada do aquífero Urucuia preencheria dez reservatórios com a capacidade para 190 milhões de litros cada e serviria para irrigar a plantação durante a estação seca. Isto significa uma capacidade de armazenamento de quase dois bilhões de litros d’água para uma única companhia.
O projeto estava em andamento quando, em 2015, a população protestou nas ruas. Depois, grupos ambientais entraram na Justiça e conseguiram embargar a obra. A Sudotex apelou, e o caso está em andamento em segunda instância. A empresa não quis se pronunciar.
“Eles dizem que trazem emprego, mas destroem o nosso rio”
Por causa da agricultura, a população de Correntina precisa prestar bastante atenção aos ciclos de chuva e ao nível dos rios. A qualquer um que se perguntasse por lá, a percepção era a mesma: de que a água diminuía ano a ano. A imagem das grandes fazendas entre os moradores é bem negativa.
“É por causa deles que estamos tendo problemas com água, e eles estão piorando”, diz Glauciene Moura, que vive na zona rural do vale do Arrojado. “Estas companhias não podem tomar o nosso rio. Nós usamos só um pouquinho dele. Se eles precisam de água, nós também”.
E-Josivaldo-Francelina-Glaucilene-e-Lara-de-Oliveira-Silva-3-anos-sao-moradores-do-Vale-do-Arrojado-e-reclama-da-reducao-do-nivel-dos-rios_-Flavia-Milhorance-copy-1521486557
Josivaldo, Francelina, Glaucilene e Lara de Oliveira Silva, 3 anos, são moradores do Vale do Arrojado.
Flávia Milhorance
“Eles dizem que trazem emprego, mas destroem o nosso rio. Eu olho para a minha filha, Lara. Ela tem 3 anos. Em 20 anos, talvez tenha que se mudar daqui”, continua.
Cinco gerações de sua família dependeram dos chamados regos, um sistema artesanal que retira uma pequena porção do rio e o reorienta a canaletas de terra para abastecer famílias vizinhas. Era usado na agricultura e até no consumo próprio. Hoje, além de boa parte dos riachos, a maioria dos regos está seco. Eles agora dependem do abastecimento municipal.
“Ela tem 3 anos. Em 20 anos, talvez tenha que se mudar daqui”
Sua mãe, Francelina Moura, diz que a chuva também tem diminuído. Nos últimos três anos, sua família perdeu a plantação por causa das fortes secas sazonais. A última vez que choveu, diz ela, foi duas semanas antes de nossa visita: “A chuva foi tão boa, ela traz tanta riqueza para a gente!”
Edite Silva também perdeu cinco colheitas. E o gado também sofreu cortes, porque sua família hoje precisa arrendar pastos verdes, disputados na região. “Aqui tinha água à vontade”, diz Silva, que se mudou para o local há 35 anos.
Representando 1300 agricultores, a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) foi contactada, mas não respondeu às perguntas encaminhadas.

Cerrado: importante distribuidor de águas

A contínua expansão agrícola, que força o desmatamento, tem pressionado o Cerrado – que já cobriu dois milhões de quilômetros quadrado, mais de 20% do território brasileiro. Hoje, metade está de pé. Os grandes sistemas de irrigação também têm se expandido no bioma, segundo um estudo da Embrapa Cerrados.
O Código Florestal deixou de proteger as matas próximas a nascentes intermitentes
Um artigo dos EUA publicado no periódico Global Change Biology diz que o impacto da agricultura no Cerrado pode alterar seus ciclos hídricos. Ele sugere que o avanço da agricultura reduz a quantidade de água reciclada para a atmosfera a cada ano. Outra pesquisa, das universidades de Göttingen e do Mato Grosso, explica que a capacidade do Cerrado de distribuir e armazenar água depende muito de sua vegetação nativa. Os resultados mostraram que a conversão de mata para pasto deteriora o solo e reduz a evapotranspiração.
Enquanto isto, a legislação ambiental para a água afrouxa, por exemplo o Código Florestal deixou de proteger as matas próximas a nascentes intermitentes, alerta um estudo. Apenas as águas perenes são protegidas. Quarenta por cento das nascentes do Cerrado são sazonais, mas todas indispensáveis para a resiliência do bioma. A remoção da vegetação do entorno pode secá-las de vez, diz o autor do artigo, Rafael Loyola, da Universidade Federal de Goiás.

Potencial de irrigação

No Brasil, a irrigação corresponde a 67,2% da água consumida, de acordo com a Agência Nacional da Água. A demanda por água em geral cresceu 80% nas últimas duas décadas e deve aumentar mais 30% até 2030.
Pesquisador da Embrapa Cerrados, Jorge Enoch diz num artigo que o Brasil ainda tem potencial para expandir a irrigação no Cerrado, mas que o manejo inadequado e a concentração de grandes sistemas de irrigação em poucas regiões, incluindo o Oeste da Bahia, está provocando o acirramento de conflitos por água.
Os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, no Norte e Nordeste, conhecidos como Matopiba, estão na última fronteira de expansão agrícola. Lá, o agronegócio avança tão rápido quanto o desmatamento do Cerrado e a intensificação de conflitos. Dados da CPT mostram aumento de 150% para 172 conflitos por água em cinco anos, o que afetou 44 mil famílias. A maior parte está no Sudeste, enquanto o Norte acumula o maior número de famílias afetadas – 16 mil – e o Nordeste, mais conflitos relacionados à apropriação privada de água pelo agronegócio – 17 no total.
Juscelino-Santos-resiste-na-terra-e-constroi-cercas-para-salvaguardar-as-nascentes-dos-rios_Alicia-Prager-copy-1521486411
Juscelino Santos resiste na terra e constrói cercas para salvaguardar as nascentes dos rios.
Alicia Prager
Em suas porções mais ao sul, no caso do Norte, e a Oeste, da Bahia, esses estados foram historicamente ocupados por tribos indígenas e comunidades tradicionais. Desde os anos 1980, clima favorável e disponibilidade de terras atraíram grandes fazendas que vieram expandindo pela porção oposta. Hoje, estes dois tipos de ocupação se chocam. Juscelino Santos, representante da comunidade tradicional Fundo de Fecho de Pasto nasceu na região e se apropria do Cerrado para alguns modos de vida, como a criação de pasto solto. Nos últimos anos, sua comunidade tem tentado salvar as cabeceiras dos rios da região. Na chapada, as pessoas têm instalado cercas para evitar a movimentação intensa e definir seu espaço.
“Meus avós nasceram e viveram aqui. Agora, eu estou resistindo”, diz Santos.
Este texto foi originalmente publicado em inglês por Mongabay.

Fonte: https://theintercept.com/2018/03/19/rios-secos-cerrado/

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Conheça mais sobre o Baru...

Conheça mais sobre o Baru (ou Cumbarú, como dizemos em MT)!

central do cerrado 

 

Conheça mais sobre o Baru!

por Laise Carvalho

Baru
Castanha de baru
Castanha de baru
Castanha de baru

Nomes populares

Castanha de baru, cumbaru, cumaru, castanha de burro, viagra do cerrado, coco barata, coco feijão.

Nome científico

Dipteryx alata Vog

Ocorrência

Ocorrre nas matas e cerrados do Brasil Central, envolvendo terras dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Bahia, Piauí, Maranhão e Distrito Federal.

Aspectos botânicos e ecológicos

Baruzeiro
Baruzeiro

Leguminosa arbórea da família Fabaceae.
Árvore de grande porte chegando a medir 25 metros de altura, podendo atingir 70 cm de diâmetro com vida útil em torno de 60 anos.
baru está ameaçado de extinção em função da procura pela madeira e pelo nível de desmatamento do Cerrado.
Ocorre corte indiscriminado do baru para fabricação de carvão vegetal, instalação de cercas (moirões), indústria moveleira, construção civil, entre outros usos.
baru é encontrado em terras férteis e seus ecossistemas de ocorrência têm sido massivamente desmatado em função do avanço da fronteira agropecuária sobre o Cerrado.
Crescimento rápido sendo importante para fixação de carbono da atmosfera.
Tem sua primeira frutificação com cerca de 6 anos, sendo este período bastante variado em função das condições de solo e água.
Possui safra intermitente com variações bruscas de intensidade de produção de frutos de um ano para o outro. Para efeitos práticos, relacionado a utilização comercial, produz uma safra boa a cada 2 anos.
Uma árvore adulta produz cerca de 150 kg de fruto por safra boa. Possui apenas uma semente por fruto, do qual pode se aproveitar a polpa, endocarpo e semente (amêndoa).
O tamanho do fruto varia muito de região por região, bem como em função das condições de solo, água e genética da planta. Em média o fruto pesa 25g, sendo 30% polpa, 65% endocarpo lenhoso e 5% semente.
Baru
A polpa do baru constitui importante fonte de alimento para a fauna nativa (pequenos mamíferos, roedores, pássaros, morcego, etc) e para o gado que se alimentam roendo a polpa da fruta na época da safra.
A época da floração e frutificação varia de acordo com a região, sendo que a colheita geralmente é feita após o pico de queda dos frutos maduros.

Aplicações do baru

  • Alimentação humana
  • Alimentação animal
  • Medicina
  • Indústria cosmética
  • Artesanato
  • Combustível
  • Indústria madereira/moveleira
  • Construção civil/rural
  • Adubação natural (leguminosa)
  • Moirão vivo

Produtos e subprodutos do baru e respectivos uso

Parte do fruto Produto/sub-produto Usos
Polpa Polpa in natura Alimentação animal
Alimentação humana
Medicinal/farmacêutico
Polpa desidratada Alimentação animal
Alimentação humana
Medicinal/farmacêutico
Farinha Alimentação humana
Álcool/Cachaça Consumo humano
Medicinal/farmacêutico
Cosmético
Industrial
Resíduos Agrícola (adubo orgânico)
Amêndoa Amêndoa crua Alimentação animal
Alimentação humana
Medicinal/farmacêutico
Agrícola (produção mudas)
Amêndoa torrada Alimentação humana
Farinha Alimentação humana
Leite Alimentação humana
Óleo Alimentação humana
Medicinal/farmacêutico
Cosmético
Industrial
Torta Alimentação humana
Medicinal/farmacêutico
Cosmético
Industrial
Pasta/manteiga Alimentação humana
Endocarpo lenhoso Carvão Combustível
Ácido Pirolenhoso e alcatrão Industrial
Endocarpo lenhoso Artesanato

Qualidade nutricional da amêndoa

Calorias 502 kcal/100g
Informações Nutricionais
Componente g /100g
Proteína 23,9
Gorduras totais 38,2
Gorduras saturadas 7,18
Gorduras insaturadas 31,02
Fibras totais 13,4
Carboidratos 15,8
Tabela de Minerais
Minerais mg/100g
Cálcio 140
Potássio 827
Fósforo 358
Magnésio 178
Cobre 1,45
Ferro 4,24
Manganês 4,9
Zinco 4,1
Referência
Takemoto, E. et al. Composição química da semente e do óleo de baru (Dipteryx alata Vog.) nativo do Município de Pirenópolis, Estado de Goiás. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 60(2):113-117, 2001.
Fonte: www.centraldocerrado.org.br
Baru

Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe: Magnoliopdida (Dicotiledonae)
Ordem: Rosales
Família: Leguminosae
Nome Científico: Dypterix alata Vog.
Nomes Populares: baru, barujó, castanha-de-ferro, coco-feijão, cumaru-da-folha-grande, cumarurana, cumaru-verdadeiro, cumaru-roxo, cumbaru, cumbary, emburena-brava, feijão-coco, meriparagé, pau-cumaru
Ocorrência: Cerrado, Cerradão Mesotrófico, Mata Mesofítica.
Distribuição: Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo (Almeida et al., 198).
Floração: de novembro a maio.
Frutificação: de outubro a março.
Árvore hermafrodita de até 15 m de altura, com tronco podendo atingir 70 cm de diâmetro e copa medindo de 6 a 8 m de diâmetro, densa e arredondada. Folhas compostas por 6 a 12 folíolos, alternos ou subopostos, de coloração verde intensa. Inflorescência panícula terminal e nas axilas das folhas superiores, com cerca de 200 a 1000 flores, caducas antes da antese. Flores pequenas, de coloração alva e esverdeada. Fruto tipo legume, com 5 a 7 cm de comprimento por 3 a 5 cm de diâmetro, de cor marrom-claro com amêndoa e polpa comestíveis. Semente única, marrom-claro e marrom-escuro, cerca de 2 a 2,5 cm de comprimento, elipsóide, brilhante
O valor calórico da polpa é de 310 kcal/100 g, com alto teor de carboidratos (63%); é rica em potássio (572mg/100 g), cobre (3,54 mg/100 g) e ferro (5,35 mg/100 g) (Vallilo et al., 1990 apud Almeida et al., 1998). Destaca-se o elevado teor de fibra insolúvel (28,2%), de açúcar (20,45%) e de taninos (3%) para frutos ainda na árvore (Togashi, 1993 apud Almeida et al., 1998). A semente do baru é rica em cálcio, fósforo e manganês, apresenta 560 kcal/100 g, com cerca de 42% de lipídios e 23% de proteína. O óleo é rico em ácidos graxos insaturados (80%), sendo o componente principal o ácido oléico (44,53%) seguido do linoléico (31,7%), palmítico (7,16%), esteárico (5,33%) e outros, além da vitamina E (13,62 mg/100 g) (Togashi, 1993 apud Almeida et al., 1998). O óleo extraído do fruto é volátil, incolor e espesso. A semente apresenta também alto teor de macro e micronutrientes (mg/100 g): K (811), P (317), Mg (143), Mn (9,14), Fe (5,35), Zn (1,04) e Cu (1,08) (Vallilo et al., 1990 apud Almeida et al., 1998). Nas folhas a concentração de macronutrientes apresentou valores médios de P(0,14%), Ca (0,68%), Mn (150 ppm) e Zn (40 ppm) (Araújo, 1984 apud Almeida et al., 1998).
Estudando o comportamento dessa espécie, em competição, Toledo Filho 1985 apud Almeida et al., 1987), recomenda-a tanto para ornamentação de ruas e praças quanto para o aproveitamento silvicultural.
Planta ornamental, de copa larga, com bonita folhagem e ramos que oferecem resistência ao vento. Fornece madeira de cor clara, compacta, resistente às pragas, própria para construção de estrutura externas como: estacas, postes, moirões, obras hidráulicas, dormentes, bem como para construção civil e naval, para vigas, caibros, batentes de porta, assoalhos e carrocerias (Corrêa, 1931; Lorenzi, 1992 apud Almeida et al., 1998).
O gosto da amêndoa do baru, parecido com o do amendoim, leva a população da região a atribuir-lhe propriedades afrodisíacas: diz-se que na época do baru, aumenta o número de mulheres que engravidam. O que já se sabe é que o baru tem um alto valor nutricional que, superando os 26% de teor de proteínas, é acima do encontrado no coco-da-baía.
A amêndoa do baru pode (Figura abaixo) ser comida crua ou torrada e, nesse último caso, substitui com equivalência a castanha-de-caju, servindo como ingrediente em receitas de pé-de-moleque, rapadura e paçoquinha
Para se obterem as amêndoas, tem-se primeiramente que retirar a polpa com faca. Os frutos despolpados são quebrados com o auxílio de uma morsa (torno fixo de oficina mecânica) ou martelo, processo esse bastante rápido. Recomenda-se quebrar somente aqueles frutos cujas amêndoas sacodem ao balançá-los, porque os outros não contêm amêndoas. A vantagem de se usar a morsa é que as amêndoas não são danificadas, sendo, por esse fato, usadas também para a formação de mudas (Almeida et al., 1987).
Ferreira (1980 apud Almeida et al., 1987) relata que as sementes do baru fornecem um óleo de primeira qualidade, que tanto é utilizado como aromatizante para o fumo como anti-reumático na medicina popular.
A polpa é bastante apreciada pelos bovinos, suínos e animais silvestres, que a consomem quando os frutos caem no chão ou das raspas que sobram da retirada da semente para consumo humano (Almeida et al., 1990 apud Almeida et al., 1998).
Os frutos maduros são procurados por morcegos e macacos. Os macacos chegam a atrapalhar a dispersão pois conseguem quebrar o fruto com pedra e comer as amêndoas (Ferreira, 1980 apud Almeida et al., 1998).
Embora tenha bom potencial econômico, o fruto não é comercializado nas cidades. Pode ser apreciado apenas como planta nativa nas fazendas do centro-oeste, onde alguns fazendeiros se preparam para iniciar seu cultivo racional principalmente em meio a áreas de pastagens (Avidos e Ferreira, 2003).
Para se efetuar a colheita de frutos de espécies arbóreas como Pequi, Jatobá, Cagaita e Baru deve-se estender uma lona, forro de pano ou de plástico ao redor da planta, balançar levemente os galhos e recolher os frutos sadios, sem vestígios de ataques de pragas ou de doenças, e acondicioná-los em recipientes adequados para o transporte (Silva et al., 2001).
Para a formação das mudas usam-se as sementes ou amêndoas.
Quando se faz a semeadura com sementes nuas, a germinação é mais rápida do que com o fruto inteiro. Sobre esse aspecto, Filgueiras & Silva (1975) apud Almeida et al., (1987) citam que as sementes nuas levaram treze dias para germinar, enquanto no fruto inteiro demoraram 42 dias.
As mudas dessa espécie devem ser mantidas a pleno sol, pois na sombra podem sofrer ataque de fungos Cilindrocladium sp. e outras pragas. Nogueira & Vaz (1993) apud Almeida et al., (1998), obtiveram mudas de 15 cm de altura após 40 dias da semeadura. Foi observado ainda que o crescimento da parte subterrânea é mais rápido que o da parte aérea.
A frutificação inicia-se aos seis anos (Carvalho, 1994 apud Almeida et al., 1998).
Fonte: www.fruticultura.iciag.ufu.br

 

terça-feira, 6 de maio de 2014


Acontecerá entre os dias 27 e 29 de agosto de 2014 o I Simpósio Nacional de Saberes Expressões Culturais no Cerrado: Devoção e Diversão nas Tradições Culturais Populares, na Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária de Pirenópolis.
            O Simpósio está sendo organizado pelo Mestrado Interdisciplinar em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (TECCER), Unidade Universitária de Ciências Socioeconômicas e Humanas e pela Unidade Universitária de Pirenópolis.
            O evento contará com uma programação diversificada com conferências, mesas redondas, simpósios temáticos, exposições e lançamentos de livros. Para maiores informações acesse o site


Texto: Layla Ashley Anchieta Pinho (Bolsista Permanência UEG) e Grupo de Pesquisa Saberes e Sabores Goianos.
Notícia publicada em 25/04/2014

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Investimentos garantem melhorias na produção de castanha de reserva extrativista

André Alves
A Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Guariba (AMORARR), no extremo noroeste de Mato Grosso, firmou este mês contrato de empréstimo de 117 mil reais com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). O empréstimo foi concedido no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e servirá para pagar a castanha do Brasil (mais conhecida como castanha-do-Pará) coletada pelos moradores. A Associação tem um ano para pagar o empréstimo com juros de 3%.
Esta é a primeira vez que a reserva extrativista firma um contrato desta natureza. Para o presidente da associação, Ailton Pereira dos Santos, o recurso vai permitir pagar preço justo aos extrativistas. “Sem esse recurso, nós não tínhamos como pagar à vista a produção e muitos vendiam para atravessadores, a preços baixos”, explica. “Agora nós teremos como pagar um preço justo e formar um estoque na associação para vendermos a grandes compradores”, complementa.
A expectativa é que a produção de castanha do Brasil na Resex gire em torno de 70 toneladas, um pouco mais do que foi na safra 2011/2012. A diferença é que para esta safra, além do recurso da CONAB, foram implementadas outras melhorias. O projeto Pacto das Águas, desenvolvido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aripuanã com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, capacitou os extrativistas em boas práticas na coleta, secagem e armazenamento da amêndoa. Além disso, instalou um barracão e um secador rotativo, que permite a Resex produzir a castanha padrão dry. Esse tipo de castanha é mais seca e mais limpa, podendo ser armazenada por mais tempo e ser vendida em média, a R$ 4,50 o quilo, praticamente o dobro do preço sem as boas práticas.
Emerson de Oliveira Jesus, técnico de campo do projeto Pacto das Águas, explica que acessar o recurso da CONAB e as instalações na reserva extrativistas eram metas do projeto. “Com isso nós garantimos uma boa qualidade da castanha e os coletores recebem um preço justo, eliminando a necessidade de vender para atravessadores”. “Agora a associação pode comprar a castanha dos moradores e estocar para vender quando o preço pago pelo mercado estiver competitivo”, ensina.
O morador Benedito Paes dos Santos conta que o projeto ajudou a transformar a vida na reserva extrativista. Ele trabalha como professor na Resex, mas nas férias também coleta castanhas com as técnicas do bom manejo. “Dá mais trabalho, mas compensa porque temos um produto de melhor qualidade”. Ele conta também que a extração da castanha e da seringa, que também é incentivada pelo Pacto das Águas, deu nova perspectiva aos jovens que só viam oportunidade de trabalho na cidade ou em fazendas vizinhas a reserva. “Agora a gente vê os jovens trabalhando com os pais numa atividade que dá dinheiro e no lugar onde eles moram”, complementa.
O barqueiro Aízo dos Santos é outro entusiasta do extrativismo. Em trinta dias catando castanha ele fez dinheiro suficiente para comprar uma moto à vista. Assim como outros moradores que compraram barcos, motores, antenas parabólicas, entre outros. “A gente acredita muito no projeto e estamos aprendendo muito e nós queremos nos organizar pra andarmos com os nossos próprios pés”, finaliza.

Saiba mais sobre a Resex Guariba-Roosevelt
Comunidade de Guariba Roosevelt
Reserva Extrativista Guariba Roosevelt

A Reserva Extrativista Guariba Roosevelt é uma Unidade de Conservação, criada pelo Decreto 9.521 de 1996 e Lei Estadual 7.164, ampliada pela Lei 8.680/2007. A UC está localizada nos municípios de Aripuanã e Colniza. Os seringueiros dos rios Guariba e Roosevelt fazem parte da história da exploração de borracha nativa no estado do Mato Grosso e há registros históricos de ocupação da região de pelo menos um século. A principal fonte econômica dos moradores se baseia na agricultura e na extração do látex, óleo de copaíba e castanha-do-Brasil.
Apesar da criação e do apoio do governo de Mato Grosso, principalmente por meio do projeto “Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade das Florestas do Noroeste de Mato Grosso” executado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Reserva ainda enfrenta problemas fundiários, sociais e de infraestrutura. De acordo com Everaldo Dutra, presidente do STR Aripuanã, a fiscalização é deficiente, as estradas são ruins e carecem de melhorias em relação a saúde e educação.

Projeto Pacto das Águas
O Pacto das Águas apoiou a produção de 735 toneladas de castanha do Brasil entre 2007 e 2012, provenientes do manejo de castanhais nativos. De 2007 até agora, foram produzidas 50 toneladas de borracha natural, sendo 14 toneladas somente nos últimos meses, gerando, somente em 2012, uma renda de R$ 200 mil do manejo dos seringais e R$ 850 mil do manejo dos castanhais para as comunidades locais. A produção é comercializada para cooperativas e empresas do Brasil, e parte é utilizada para subsistência e rituais indígenas. As ações do Pacto das Águas estão direcionadas para as terras indígenas Erikbaktsa, Japuíra, Escondido, do povo Rikbaktsa, e Zoró e a Resex Guariba Roosevelt, abrangendo no seu conjunto uma área aproximada de 880 mil hectares e 2.500 pessoas, todas habitantes da região Noroeste da Amazônia Mato-grossense.
O projeto envolve os municípios de Juína, Juara, Cotriguaçu, Colniza, Aripuanã e Rondolândia. Após ingressarem no projeto, os índios Zoró já são os maiores produtores de castanha do Estado do Mato Grosso, com uma produção média de 160 toneladas por ano. Mais do que geração de renda, o projeto junto com os seus parceiros locais está construindo alternativas concretas ao desmatamento e degradação florestal, valorizando a floresta e os povos que nela habitam.

Fonte: http://www.forestcom.com.br/rede_forest_noticias/38/65/pacto_das_aguas/investimentos_garantem_melhorias_na_producao_de_castanha_de_reserva_extrativista

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Cerrado, mera fonte para aumentar o PIB brasileiro

Cerrado, mera fonte para aumentar o PIB brasileiro. Entrevista especial com Lara Montenegro
Os sistemas produtivos do Cerrado “estão pautados em um modelo tecnológico que, além de desmatar grandes extensões de vegetação nativa e gerar poucos empregos, utiliza grandes quantidades de insumos químicos”, diz a coordenadora administrativa da Rede Cerrado. Confira a entrevista.


Por IHU On-Line
As monoculturas que invadem o cerrado brasileiro são hoje o principal entrave à conservação do bioma. As plantações de soja, algodão, cana-de-açúcar e eucalipto já contribuíram para devastar metade dos dois milhões de km² do bioma, e “22 milhões de hectares já estão ocupados por cultivos agrícolas”, assinala a pesquisadora Lara Montenegro em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail.
Em sua avaliação, a situação ambiental do bioma é um reflexo do “entendimento” do governo federal em relação à área. “O cerrado é a principal frente para a expansão do agronegócio” e é através da expansão agrícola no ecossistema que o governo pretende aumentar o “PIB e o superávit primário”, lamenta. Segundo Lara, “as linhas de crédito do Ministério da Agricultura para os grandes produtores de commodities são absurdamente superiores àquelas oferecidas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário aos agricultores familiares, que são responsáveis por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros”.
Além da cana-de-açúcar, que abastece o setor sucroalcooleiro, o cerrado brasileiro está sendo invadido pela plantação de pinus e eucalipto. Conforme a pesquisadora, somente em 2010 mais de “6,5 milhões de hectares” do bioma eram destinados à silvicultura. Entretanto, apesar da constatação dos impactos ambientais, como a exaustão de nascentes e mananciais, “os Planos Setoriais de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas, que estão sendo desenvolvidos pelo governo federal, preveem a ampliação desses plantios florestais em três milhões de hectares até 2020”, para substituir o carvão nativo.
Lara Montenegro é assessora técnica do Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN e coordenadora administrativa da Rede Cerrado. Faz parte da equipe de coordenação do VII Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, ao lado de representantes de outras organizações.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual é a situação e as demandas para a conservação do bioma Cerrado?
Lara Montenegro – O Cerrado ocupa quase ¼ do território nacional, o equivalente a dois milhões de km². Hoje, mais da metade dessa área já se encontra devastada, e muitas das regiões que ainda contam com cobertura vegetal estão fortemente antropizadas e sob grande pressão da expansão da demanda por terras para o agronegócio. A pecuária extensiva também é uma grande ameaça ao bioma, principalmente por conta das baixas tecnologias empregadas e do péssimo índice de produtividade: uma cabeça de gado por hectare. O precário manejo das pastagens resultou em mais de 4,2 milhões de hectares de pastagens degradadas, o equivalente a 10% da terra utilizada para pecuária no Cerrado.
Da perspectiva de conservação, há diferentes estratégias a serem promovidas e incentivadas por meio de políticas públicas e por iniciativa da sociedade civil. A Rede Cerrado entende que é fundamental fomentar modos de vida tradicionais que promovem o uso sustentável da biodiversidade (que aliam geração de renda, qualidade de vida e conservação da natureza), garantindo terra e acesso a recursos para agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais. Nesse sentido, a demanda prioritária é de reconhecimento e demarcação de terras indígenas, territórios quilombolas e de comunidades tradicionais, áreas que ainda se encontram conservadas em função dos modos de vida desses grupos, mas que estão sob ameaça permanente.
Na Carta dos Povos do Cerrado, elaborada ao final do VII Encontro dos Povos do Cerrado, ocorrido em setembro em Brasília, está listada uma série de demandas nesse sentido. A estratégia de conservação pelo uso sustentável da biodiversidade tem potencial para ser aplicada em grande escala, inclusive fora de áreas protegidas. Além disso, propõe atividades econômicas em áreas que continuarão provendo seus serviços ambientais. A viabilização da atividade agroextrativista é, portanto, de grande urgência. Hoje, estas cadeias produtivas encontram todos os tipos de dificuldades fiscais, sanitárias e ambientais, que praticamente inviabilizam sua existência.
IHU On-Line – Nos últimos anos tem aumentado a plantação de eucalipto no Cerrado brasileiro. É possível estimar que percentual do território já é ocupado por essa cultura?
Lara Montenegro – Em 2010, a área plantada de pinus e eucalipto no Brasil era de mais de 6,5 milhões de hectares, área maior que as dos estados do Rio de Janeiro e de Sergipe somadas. Essas monoculturas ocupam uma área cada vez maior no Cerrado, principalmente no norte de Minas Gerais e no sul da Bahia. A atividade gera poucos empregos e é responsável por grande parte dos problemas que o bioma e seus povos têm enfrentado. Por serem árvores de crescimento rápido, ciclo curto e que são plantadas em elevada densidade, há grande demanda de água, o que frequentemente leva à exaustão de nascentes e mananciais. Além de reduzir a quantidade de água, a qualidade do solo e a biodiversidade, as plantações de eucalipto muitas vezes causam o isolamento de comunidades locais, impedindo seu acesso a recursos naturais essenciais a sua sobrevivência.
Apesar disso, os Planos Setoriais de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas, que estão sendo desenvolvidos pelo governo federal, preveem a ampliação desses plantios florestais em três milhões de hectares até 2020. Partem do princípio de que o uso do eucalipto substituirá o carvão retirado do Cerrado nativo para a siderurgia. Porém, a solução não é tão linear quanto parece. Há muitos problemas ambientais e sociais associados a estes cultivos, já apontados por organizações e pesquisadores, como a Rede Alerta Contra o Deserto Verde.
IHU On-Line – Por que as monoculturas são prejudiciais para o bioma? Há algum controle em relação às plantações e à degradação gerada?
Lara Montenegro – A maior frente de expansão do cultivo de cana para produção do biocombustível etanol, de soja para exportação, de eucalipto para produção de celulose e de carvão para a siderurgia está ocorrendo no Cerrado, empurrando outras culturas e a criação de gado para áreas mais distantes, nas partes norte e oeste do Cerrado e sul da Amazônia.
Em geral, qualquer plantio homogêneo causa problemas que já são bem conhecidos. Estes problemas são ambientais (práticas agrícolas inadequadas que causam erosão, perda de biodiversidade, contaminação de mananciais e de pessoas com agrotóxicos, emissão de gases de efeito estufa) e sociais (expulsão de comunidades de seus territórios, concentração de renda, destruição de recursos naturais amplamente utilizados pelas comunidades locais).
Especificamente no caso da cana-de-açúcar, com o aumento das áreas plantadas, é cada vez mais frequente a constatação de problemas que envolvem a não observância das áreas de preservação permanente e a prática de trabalho escravo ou similar ao escravo. Na maioria dos casos, os trabalhadores são horistas e ganham por produtividade, trabalhando à exaustão, sob más condições de alojamento e alimentação. Tais questões precisam ser devidamente consideradas na discussão da estratégia do governo federal de promoção em larga escala do uso de biocombustíveis.
IHU On-Line – Como as comunidades tradicionais do Cerrado têm utilizado a terra?
Lara Montenegro – Muitas comunidades tradicionais e agricultores familiares comprometidos com a conservação do bioma têm trabalhado no sentido de aproveitar os ricos recursos oferecidos pelo Cerrado, por meio do extrativismo de frutos e produtos tais como o baru, o pequi, o babaçu, o buriti, a gueroba, entre outros. Tais recursos são utilizados para a produção de alimentos, fitocosméticos, artesanato etc., a partir de um conhecimento consolidado e transmitido através de gerações.
A aliança entre agricultura familiar e extrativismo sustentável (baseado em boas práticas de manejo na coleta) tem rendido bons resultados tanto do ponto de vista de conservação do bioma como do de geração de renda e qualidade de vida para a população do campo. O resgate de sementes crioulas tem permitido a muitos grupos retomar o cultivo de alimentos que vinham se perdendo. Práticas agroecológicas também vêm progressivamente ganhando espaço e se disseminando, consolidando-se como uma estratégia fundamental para melhoria da qualidade do solo, aumento da produtividade, conservação de biodiversidade e manutenção de serviços ecossistêmicos.
No caso das comunidades que vivem em áreas coletivas e protegidas (como alguns grupos quilombolas e indígenas), verifica-se que fazem melhor uso da área do que a média da região. Há um padrão verificado internacionalmente (e no Brasil não é diferente) que comprova que as florestas geridas por comunidades em geral são as áreas mais bem preservadas. Esses padrões são facilmente verificáveis por imagens de satélites.
IHU On-Line – Qual a importância delas para a manutenção e conservação do bioma?
Lara Montenegro – As práticas destes grupos permitem a consolidação do que chamamos de paisagens produtivas sustentáveis, baseadas na produção diversificada da agricultura familiar associada à prática do extrativismo. Dessa forma, a partir da variedade de espécies cultivadas e da manutenção de vegetação nativa, é possível manter fluxos gênicos, estabelecer corredores ecológicos, manter o ciclo hidrológico, entre diversas outras funções. Como se sabe, a diversidade biológica é fundamental para a polinização e para evitar pragas. As práticas de adubação verde também permitem a conservação de água e solo assim como a redução do consumo de fertilizantes.
IHU On-Line – De acordo com alguns pesquisadores, o Cerrado é o bioma menos contemplado pelas políticas públicas e tem menos regras em relação à ocupação. Diante disso, como o agronegócio tem ameaçado a sustentabilidade do bioma? É possível conciliar a conservação do bioma diante do crescimento de monoculturas?
Lara Montenegro – No Cerrado, 22 milhões de hectares estão ocupados por cultivos agrícolas. As monoculturas de maior expressão são as de soja, eucalipto, cana-de-açúcar e algodão. Estes sistemas produtivos estão pautados em um modelo tecnológico que, além de desmatar grandes extensões de vegetação nativa e gerar poucos empregos, utiliza grandes quantidades de insumos químicos, o que levou o Brasil ao posto de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Muitos dos pesticidas utilizados aqui já foram banidos em outros países. O resultado disso é a contaminação da água, do solo, dos alimentos e das pessoas. Tivemos um exemplo recente no Mato Grosso do Sul em que até o leite materno encontrava-se contaminado com agrotóxicos. Frequentemente, essas plantações deixam de herança vastas áreas de solos degradados, que, quando ainda conseguem ser recuperados, levam décadas até que possam voltar a desempenhar seus serviços ambientais para manutenção da água, da biodiversidade e do carbono.
Entendemos que o esforço deve se dar no sentido de destinar as áreas já desmatadas para as atividades de produção de grãos e cana-de-açúcar, aprimorar as tecnologias para ampliar a produtividade da pecuária (reduzindo a demanda de áreas para pastagens) e, por outro lado, garantir o direito à terra e à manutenção de modos de vida tradicionais de agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais, de forma associada também à criação de Unidades de Conservação – UCs. Uma estratégia que vem ganhando visibilidade, com bons resultados, é a de criação de mosaicos de áreas protegidas, integrando UCs, terras indígenas e/ou territórios quilombolas, como no caso da experiência do Mosaico Sertão Veredas/Peruaçu, no norte de Minas Gerais. É possível compatibilizar o agronegócio com a conservação do Cerrado, desde que sejam adotadas novas práticas agrícolas que permitam a coexistência dessa atividade com a proteção do bioma. No modelo atual, a coexistência é um desafio quase intransponível.
IHU On-Line – Há denúncias de que as comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas têm sido expulsas dos biomas em que vivem. Isso se repete no Cerrado brasileiro?
Lara Montenegro – O modelo de produção vigente no campo brasileiro tem provocado inúmeros conflitos e causado o isolamento e a perda de territórios de povos e comunidades tradicionais em todo o país. Povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares estão sendo expulsos de suas terras, sofrendo ameaças constantes, com inúmeros casos de assassinato de lideranças comunitárias e indígenas, que infelizmente não têm sido devidamente investigados e encaminhados pelas autoridades competentes.
Há situações críticas e de largo conhecimento público, como o caso da Terra Indígena Xavante Maraiwatsede, no Mato Grosso, homologada em 1998, mas que permanece com 90% de sua área ocupada por fazendeiros e posseiros não indígenas, e dos etnocídios dos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul e dos Ava-Canoeiro, em Goiás, mas que seguem invisíveis diante das autoridades, pois o poder econômico e os interesses do agronegócio falam mais alto do que os legítimos pedidos de reconhecimento de direito à terra de povos indígenas e comunidades tradicionais. Como forma de desestruturar as lutas destas minorias, as terras em disputa estão sendo queimadas e desmatadas por latifundiários.
IHU On-Line – De acordo com alguns pesquisadores, o Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba está “na mira” de grupos econômicos, que pretendem utilizar as águas dos rios para formar lagos de usinas hidrelétricas ou plantações de soja. A informação procede? Qual a situação das unidades de conservação do bioma?
Lara Montenegro – A situação geral das unidades de conservação do bioma é de grande isolamento diante de uma área crescente de monoculturas em seus entornos. Apenas 2,8% do território do Cerrado encontra-se protegido por meio de unidades de conservação de proteção integral, e há mais de sete anos não se cria nenhuma nova unidade de conservação no bioma. Há entraves em função dos interesses do setor de mineração e do agronegócio, e as negociações dentro do governo federal não avançam. Além disso, as reservas extrativistas (ou simplesmente Resex) homologadas nunca foram implementadas, isto é, a regularização fundiária nunca se efetivou, o que tem gerado conflitos permanentes. Para completar, muitas das áreas previstas para criação de Resex vêm sendo destruídas com vistas a inviabilizar sua constituição, como ocorreu recentemente na área prevista para a Resex Areião/Vale do Guará, no norte de Minas, que foi foco de incêndios criminosos neste mês de setembro.
IHU On-Line – A senhora participou do encontro da Rede Cerrado com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira? Como foi a conversa e de que forma a ministra se posiciona diante das demandas do Cerrado? Nesse sentido, qual é a postura do governo brasileiro em relação à conservação do bioma?
Lara Montenegro – Na tarde do dia 13 de setembro, após o Grito do Cerrado, realizado na Esplanada dos Ministérios, a ministra Izabella Teixeira recebeu uma comissão de cerca de 20 representantes da Rede Cerrado, onde foram discutidas rapidamente algumas estratégias prioritárias para a defesa do bioma.
A ministra enfatizou a importância do Cerrado e da Caatinga, que não têm a mesma visibilidade que Amazônia e Mata Atlântica, e destacou a preocupação do ministério com o controle de queimadas no Cerrado. Ela autorizou o uso de recursos do GEF Cerrado para realizar o mapeamento de conflitos no bioma, mas declarou desconhecer diversas demandas pela criação de UCs.
No entanto, o entendimento predominante no âmbito do governo brasileiro é o de que é necessário ampliar o PIB e o superávit primário, e o Cerrado é a principal frente para a expansão do agronegócio. Assim, as linhas de crédito do Ministério da Agricultura para os grandes produtores de commodities, por exemplo, são absurdamente superiores àquelas oferecidas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário aos agricultores familiares, que são responsáveis por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.
No âmbito do próprio Ministério do Meio Ambiente, as ações voltadas para o Cerrado andam a passos lentos, como é o caso do Programa Cerrado Sustentável, criado em 2005, mas sem recursos orçamentários para sua implementação, e o Zoneamento Ecológico Econômico do bioma, que se arrasta há anos e que sequer tem a etapa de diagnóstico concluída. O fato de não se criar nenhuma unidade de conservação no bioma há sete anos, como disse acima, reforça o entendimento de que a conservação do Cerrado está longe de ser um tema prioritário para o governo brasileiro.

IHU On-Line/EcoAgência

http://www.ecoagencia.com.br/index.php?open=noticias&id=VZlSXRlVONlUsRmdX1GdXJFbKVVVB1TP

quarta-feira, 21 de março de 2012

Centro Histórico de Pirenópolis


Centro Histórico de Pirenópolis

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Centro Histórico de Pirenópolis
Piri (11).jpg
Vista Noturna da Rua do Rosário
Autor Escravos a mando da População Pirenopolina
Data da construção 1727
Estilo arquitetônico Colonial, Barroco
Cidade Pirenópolis, Goiás Brasil
Tombamento 1989
Órgão IPHAN

O Centro Histórico de Pirenópolis constitui a parte mais antiga do município de Pirenópolis, localizado no estado brasileiro de Goiás. Foi fundado em 7 de outubro de 1727.

Descrição

O Centro Histórico de Pirenópoli abrange a área histórica do município brasileiro de Pirenópolis, no estado de Goiás. Quase um terço da área total do município é tombado pelo IPHAN como patrimônio histórico.

A preservação desse sítio histórico começou na década de 1989, quando os principais monumentos foram tombados. A partir daí foram promovidas várias ações no sentido de preservar todo o patrimônio histórico, cultural e arquitetônico do município. O sítio foi declarado, em 1989, Monumento Nacional, pelo Congresso Nacional.

Pirenópolis se tornou um importante pólo econômico no início do século XVIII. Até o início do século XXI, por causa da, por assim dizer, estagnação, Pirenópolis manteve preservada sua arquitetura. Então, as atividades culturais e o turismo começaram a se tornar relevantes, e a preservação e o tombamento dos monumentos começou a ser feito.

Arquitetura barroca cidade tem um traçado irregular, de influência Colonial, adaptando-se de forma orgânica às curvas do terreno e sendo influenciada pela arquitetura religiosa.

As torres das igrejas se destacam na paisagem da cidade. Entre as construções existentes atualmente, se destacam a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. A arquitetura civil, ao contrário da religiosa, é simples perto da de outras cidades brasileiras da época. Recebeu influência da arquitetura portuguesa, como construções com sacada em pedra ou madeira, fachadas contíguas e grandes quintais, adaptada ao clima tropical do local.